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«Sob o Céu das Fronteiras» é um mergulho na alma de Vila Real de Santo António

Num ambiente de reconhecimento e camaradagem, a Biblioteca Municipal Vicente Campinas foi palco, recentemente, da apresentação do mais recente romance de José Estevão Cruz, intitulado “Sobre o Céu das Fronteiras”.

O evento contou com a presença do autor, do Presidente da Câmara Municipal, Alvaro Araújo, da apresentadora Amélia Cunha, e de um público caloroso, composto por amigos, familiares e admiradores da obra do escritor vila-realense.

A Obra: Um Retrato Fiel dos Anos 80 na Fronteira

“Sobre o Céu das Fronteiras”, o sétimo romance e décimo segundo livro de José Cruz, transporta o leitor para a década de 1980, um período de transformações significativas em Vila Real de Santo António e, particularmente, em Monte Gordo.

Tendo como pano de fundo a história de amor entre dois jovens locais, João Largo e Almerinda Lopes, que sonham construir uma “barraca de lata” para iniciar a sua vida, o romance explora as complexidades da vida na fronteira.

Amélia Cunha, que apresentou a obra, destacou a forma como o livro entrelaça a ficção com a realidade vivida pela comunidade. São abordados temas como as duras condições de vida em Monte Gordo, onde muitas famílias ainda habitavam em barracas, a vida dos pescadores e das operárias conserveiras, a tensão resultante da pesca ilegal por barcos espanhóis, o fenómeno do contrabando (a “candonga”), o “negócio da peseta”, e até eventos dramáticos como o bloqueio da fronteira e a morte de um pescador espanhol por autoridades portuguesas.

Amélia Cunha elogiou a estrutura do livro, com capítulos curtos e títulos elucidativos, que facilitam a leitura.

O próprio autor descreveu o livro como “neorrealista”, focado nas “histórias da vida da gente humilde” – pescadores, conserveiros, contrabandistas, operários – vítimas das políticas dos poderes centrais. Cruz frisou que a obra não procura heróis tradicionais, mas sim espelhar a “crua realidade” e as vidas duras da sua gente, ao mesmo tempo que reconhece os progressos sociais alcançados desde então.

Um dos objetivos, segundo o autor, foi também clarificar factos históricos locais, como a verdadeira história por detrás da morte do contrabandista António Florez, muitas vezes distorcida e confundida com lendas ou canções populares.

O Autor: Um Homem Multifacetado e Dedicado à Sua Terra

A sessão de lançamento foi também uma oportunidade para homenagear o percurso de José Cruz. O Presidente da Câmara, Alvaro Araújo, expressou a sua “admiração extrema” pelo escritor, elogiando a sua “maturidade democrática”, o seu profundo amor pela terra e a sua capacidade de colocar o interesse coletivo acima do pessoal, nomeadamente na sua vida política. Araújo recordou o carinho que a sua família nutre por Cruz e pela sua esposa, Maria Bárbara, que realizou a revisão da obra.

Amélia Cunha complementou este retrato, lembrando as várias facetas de José Cruz: para além de escritor (de romances, poesia e contos), é também jornalista (com passagem pelo Jornal do Algarve), compositor e cantor, bancário de profissão e um político que sempre serviu de forma “desprendida”, sem procurar benefícios pessoais.

Lembrou que ele foi deputado, vereador e atualmente membro da Assembleia Municipal pelo PCP. Foi ainda recordado, por Luísa Travassos, diretora do Jornal do Algarve, o seu papel fundamental na fundação da Adipacna (Associação para a Defesa e Investigação do Património Cultural e Natural de Vila Real Santo António) e o seu contributo crucial para a sobrevivência e continuidade do Jornal do Algarve em momentos difíceis, chegando a arriscar o seu emprego no banco para proteger o arquivo do jornal.

Revelações Pessoais e Processo Criativo

Na sua intervenção, José Cruz partilhou detalhes mais íntimos da sua vida. Falou de um acidente na infância que o manteve hospitalizado dos 3 aos 8 anos, marcando o seu desenvolvimento social inicial.

Revelou a sua natureza inquieta desde a adolescência, escrevendo as primeiras histórias e poemas, e envolvendo-se precocemente no jornalismo e até no canto.

Sobre o seu processo criativo, Cruz afirmou que a sua escrita nasce de uma “necessidade comunicacional” e de um desejo de “se dar aos outros”. A sua inspiração primordial é a sua terra, as paisagens do estuário do Guadiana, as suas gentes e a sua história.

Assumindo-se como um dos escritores do Rio, manifestou a sua satisfação por ter escolhido permanecer e escrever sobre o seu local de origem, apesar das oportunidades que poderia ter tido “lá fora”. Com humildade, afirmou não ser “juiz literário”, mas apenas “escritor”, consciente do seu lugar e confiante que o valor da sua obra será avaliado pelo tempo.

A apresentação de “Sobre o Céu das Fronteiras” foi, assim, mais do que um simples lançamento literário; foi uma celebração da identidade local, da memória coletiva e de um autor profundamente enraizado na sua comunidade, cuja obra continua a dar voz à história e às vivências das gentes da raia algarvia.

O livro foi editado pela Editora Guadiana e esteve presente o proprietário, Hélder Oliveira.

Biblioteca Vicente Campinas
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