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LUGARES | Molino El Pintado

O Molino El Pintado, erguido nas margens do rio Guadiana, representa mais do que uma estrutura antiga; é um elo vital que conecta o passado industrial da região fronteiriça com o seu presente de preservação cultural e consciencialização ambiental.

A sua história, desde a sua construção no século XVIII e o seu auge sob a gestão de Manuel Rivero “El Pintado”, até à sua transformação num ecomuseu dinâmico, reflete a evolução das necessidades e valores da comunidade ao longo do tempo.

A sua arquitetura, adaptada ao ambiente único das marismas e concebida para aproveitar a força das marés, demonstra a engenhosidade dos seus construtores e a sua profunda ligação com o ambiente natural. O seu estatuto como monumento histórico e a sua localização dentro de uma área natural protegida sublinham a sua importância tanto para o património cultural como para a biodiversidade da região.

Hoje, o Molino El Pintado continua a pulsar com vida cultural, acolhendo eventos e educando visitantes sobre a sua história e o ecossistema circundante. Embora os relatos pessoais diretos do seu passado operacional sejam escassos, a sua presença física e a sua história documentada oferecem uma narrativa rica sobre a vida e o trabalho nas margens do Guadiana. Ao comparar-se com outros moinhos de maré na região, tanto em Espanha como em Portugal, o Molino El Pintado destaca-se como um exemplo bem preservado de um património industrial partilhado, oferecendo valiosas lições sobre o aproveitamento sustentável dos recursos naturais.

Em suma, o Molino El Pintado não é apenas um ponto de interesse histórico, mas um guardião da memória da região fronteiriça do Guadiana, convidando tanto os locais como os visitantes a explorar e a valorizar a sua rica herança cultural e natural.Fontes usadas no relatório

Molino El Pintado: Um Guardião da História Mareal do Guadiana
O Molino El Pintado ergue-se como um marco proeminente no Paraje Natural Marismas de Isla Cristina, dentro do município de Ayamonte. Este engenho, dedicado a moer cereais através da força das marés, representa um testemunho da engenhosidade histórica na utilização de recursos naturais. Atualmente transformado num ecomuseu, o Molino El Pintado estabelece uma ponte entre o passado e o presente, oferecendo aos visitantes uma janela para a história industrial e ecológica da região. A sua metamorfose de um moinho funcional para um centro de interpretação reflete uma mudança no seu papel, passando da produção económica para a preservação cultural e a educação. Esta evolução acompanha uma tendência mais ampla na gestão do património, onde locais históricos são revitalizados para envolver o público e transmitir conhecimento sobre o passado.  

As Marés do Tempo: A História do Moinho
As primeiras referências a moinhos de maré na região remontam ao século XIII, em Castro Marim, sugerindo uma longa tradição de aproveitamento da energia das marés na área do Guadiana. Embora existisse um moinho em Ayamonte já em 1549, a estrutura atual do Molino El Pintado data do século XVIII, mais precisamente por volta de 1750. A existência de moinhos de maré anteriores na região fornece um contexto histórico importante, indicando que o Molino El Pintado faz parte de uma tradição mais vasta de tais estruturas ao longo do rio Guadiana. Isto demonstra a importância da energia das marés para a economia local ao longo de séculos.  

O período de maior prosperidade do moinho ocorreu em meados do século XVIII, após a sua aquisição por Manuel Rivero González, alcunhado “El Pintado” devido a marcas de varíola que tinha desde criança. Ele contribuiu significativamente para a importância do moinho, que passou a ser conhecido pelo seu apelido, um testemunho do seu impacto. No século XVIII, cerca de dez moinhos operavam perto de Ayamonte, incluindo este. A mudança de nome do moinho para “Molino de El Pintado” após a posse de Manuel Rivero realça a sua influência significativa na sua história e o seu reconhecimento pela comunidade. O seu investimento e gestão provavelmente conduziram ao auge da sua produtividade.  

Contudo, por volta de 1945, o moinho cessou as suas operações devido à escassez de cereais após a Guerra Civil e ao surgimento de moinhos de farinha modernos. Seguiu-se um período de abandono e deterioração, culminando com o colapso do telhado da sala de moagem cerca de 20 anos antes de sua restauração. O declínio do moinho ilustra o impacto dos avanços tecnológicos e das mudanças socioeconómicas nas indústrias tradicionais. O surgimento de moinhos de farinha modernos e a melhoria das infraestruturas de transporte tornaram os moinhos de maré menos competitivos.  

A recuperação do moinho começou com várias tentativas de restauro, incluindo o projeto Vía Verde Litoral, inicialmente destinado à observação de aves, mas que foi abandonado devido a problemas orçamentais. Finalmente, em 2007, o Ministério do Ambiente recuperou o moinho para o transformar no Ecomuseu das Marismas de Isla Cristina. O objetivo do ecomuseu é mostrar a interação sustentável entre os seres humanos e as marismas ao longo de mais de 200 anos. O seu nome oficial é Ecomuseu Molino Mareal “el Pintado” – Junta de Andalucía. A transformação num ecomuseu reflete uma crescente valorização do património industrial e o desejo de preservar e interpretar locais históricos para fins educacionais e turísticos. Isto significa uma mudança do uso puramente funcional para a consciencialização cultural e ambiental.  

Engenharia e Beleza: A Arquitetura do Moinho
A construção original do Molino El Pintado, no século XVIII, utilizou materiais locais como pedra, cal e tijolo. Destaca-se o uso da “piedra ostionera” (pedra ostrícola) do Golfo de Cádis nas fundações e elementos decorativos, conhecida pela sua resistência ao sal. Foram também utilizados tijolos de marisma nas aberturas. A estrutura principal possuía um telhado de tesoura. Existiam edifícios anexos que serviam como armazéns, oficinas e estábulos. O moinho contava com seis comportas feitas de tijolo e cal, protegidas por contrafortes de pedra. A escolha de materiais locais como a pedra ostrícola demonstra uma adaptação ao ambiente costeiro, utilizando recursos facilmente disponíveis e resistentes aos efeitos corrosivos da água salgada, um aspeto crucial para um moinho de maré.  

O moinho funcionava através de tecnologia hidráulica, aproveitando a força das marés para mover as suas mós. Os componentes chave do mecanismo de moagem incluíam o “alfanje” (base), a mó inferior fixa, a mó superior móvel, o impulsor e a tremonha. Existia um sistema de canais para o fluxo da água e arcos de saída para a água retornar ao mar. A sala de moagem albergava seis mós, tornando-o um dos maiores moinhos de maré da Península Ibérica subatlântica. A descrição do mecanismo de moagem e do fluxo de água revela uma compreensão sofisticada da energia das marés e da sua aplicação a processos industriais. O design foi especificamente concebido para maximizar o poder das marés.  

O projeto de reabilitação de 2007, conduzido pelo Estudio ACTA, procurou integrar-se com a estrutura existente. O objetivo era alcançar a austeridade na forma e nos materiais, optando por soluções económicas, resistentes e duráveis. Foram recuperados materiais valiosos de áreas demolidas. O projeto também incorporou energia solar fotovoltaica para eletricidade e água quente, bem como uma turbina hidráulica para fins educacionais, demonstrando o uso de fontes de energia renováveis. O projeto de reabilitação não só preservou a arquitetura histórica, mas também incorporou tecnologias sustentáveis modernas, realçando a relevância duradoura das fontes de energia renováveis, das quais o moinho é um exemplo histórico.  

Um Tesouro Protegido: Estatuto Patrimonial
O Molino El Pintado está genericamente inscrito no Catálogo Geral do Património Histórico Andaluz pela Junta de Andalucía. Esta inclusão no catálogo oficial do património histórico andaluz significa o reconhecimento da importância histórica e cultural do moinho a nível regional, proporcionando uma camada de proteção e garantindo a sua preservação para as gerações futuras.  

A sua localização dentro do Paraje Natural Marismas de Isla Cristina sublinha ainda mais a sua importância ambiental e histórica. A área é classificada como Sítio Natural a conservar desde 1989. A localização do moinho dentro de um parque natural realça a interconexão do património cultural e natural. A preservação do moinho contribui para o valor e atratividade geral da área protegida.  

O ecomuseu foi galardoado com o selo TUR4all pelo seu compromisso com a acessibilidade para pessoas com deficiência. Existem características de acessibilidade específicas, como rampas, sinalização em Braille e visitas adaptadas. O selo de acessibilidade indica uma abordagem moderna à gestão do património, garantindo que o local é inclusivo e pode ser apreciado por um público mais vasto, independentemente das suas capacidades físicas.  

Pulsação Cultural: Relevância para Ayamonte e o Guadiana
Historicamente, o moinho dedicava-se à moagem, utilizando para tal a força das marés. Fruta e farinha eram as principais cargas expedidas do moinho em Ayamonte. Desempenhou um papel crucial no fornecimento constante de farinha para as padarias locais. A função histórica do moinho como produtor de farinha demonstra o seu papel crucial na economia local e na cadeia de abastecimento alimentar, particularmente antes do advento das tecnologias modernas de moagem.  

O Molino El Pintado é um símbolo da história e do património de Ayamonte. A sua ligação ao ambiente natural das marismas é inegável. É considerado o moinho de maré mais bem preservado da província de Huelva. Como o exemplo mais bem preservado de um tipo de estrutura outrora comum, o moinho serve como uma ligação tangível ao passado, fomentando um sentimento de identidade local e orgulho na história da comunidade e na sua ligação ao ambiente natural.  

Atualmente, o seu papel como centro de interpretação é fundamental. O interior do ecomuseu está dividido em cinco espaços: receção, sala audiovisual, sala da área natural, sala de moagem e área RENPA. Oferece aos visitantes uma experiência sensorial de imagens, música e sons relacionados com o moinho e as marismas. Estão disponíveis visitas guiadas. A sala de moagem alberga exposições sobre moinhos e a recuperação de vias navegáveis de maré. A transformação num ecomuseu permite que o moinho continue a servir a comunidade, educando os visitantes sobre a sua história, a importância da energia das marés e o ecossistema único das marismas circundantes, promovendo assim o turismo ecológico e a consciencialização ambiental.  

O ecomuseu serve também como ponto de partida para a exploração de outros locais naturais e históricos da área, como o trilho da Salina del Duque e o Molino Mareal de Pozo del Camino. Existe também a “Ruta del Molino El Pintado”, um trilho pedestre que oferece uma visão sobre os usos históricos das marismas na região. Ao funcionar como porta de entrada para outras atrações, o Molino El Pintado aumenta o apelo turístico geral da região, incentivando os visitantes a explorar a paisagem cultural e natural mais ampla de Ayamonte e da área do rio Guadiana.  

Imagens que Contam: Uma Viagem Visual
O moinho apresenta-se como um grande moinho de maré localizado nas marismas. O seu ambiente único é ideal para entusiastas da natureza. A sua marcada axialidade torna-o um destaque na vasta e plana paisagem. Um caminho de acesso foi construído propositadamente para lá chegar. Seis arcos para a saída da água são visíveis da passarela exterior sul. A descrição visual enfatiza a integração do moinho com o seu ambiente natural e a sua presença imponente na paisagem, tornando-o um marco visualmente impressionante.  

No interior, o centro de visitantes está dividido em cinco espaços. Inclui uma área de receção, uma sala audiovisual, uma sala dedicada à área natural, a sala de moagem com a maquinaria e a área RENPA. A sala de moagem alberga uma exposição sobre moinhos e vias navegáveis de maré. A disposição interior e as exposições oferecem uma experiência multissensorial aos visitantes, permitindo-lhes compreender a história e a função do moinho através de exposições visuais, auditivas e potencialmente interativas.  

Existem fotografias de Fernando Alda e Patxi Serveto que documentam o moinho e a sua restauração. Há fotos que mostram tanto o exterior como o interior, incluindo a maquinaria de moagem. Existe também uma visita virtual, embora atualmente indisponível. A documentação fotográfica e a intenção de uma visita virtual indicam esforços para capturar visualmente e partilhar a aparência e a história do moinho com um público mais vasto, tanto fisicamente como potencialmente online.  

Palco de Eventos: A Vida Cultural no Moinho
O ecomuseu possui a sua própria agenda de eventos relacionados com as suas atividades. Está também integrado na agenda cultural mais ampla de Ayamonte, que inclui eventos no Molino El Pintado. A realização ativa de eventos demonstra que o Molino El Pintado não é apenas um local histórico estático, mas um centro cultural dinâmico que continua a envolver a comunidade.  

Existem exemplos de eventos passados e futuros, como o Festival Lunáticos com atuações musicais. Menciona-se também a rota de bicicleta do “Día Mundial de la Salud” que inclui o Molino El Pintado. Existe a possibilidade de visitas guiadas durante os eventos. A variedade de eventos realizados no moinho, desde festivais de música a atividades focadas na saúde, sugere a sua versatilidade como local e o seu apelo a uma vasta gama de interesses dentro da comunidade.  

Ecos do Passado: Testemunhos e Memórias
O material fornecido não contém relatos pessoais diretos de indivíduos que trabalharam ou viveram no Molino El Pintado. No entanto, existe o relato histórico de Manuel Rivero González sobre a produtividade do moinho. Menciona-se também a informação sobre o último moleiro de um moinho de maré na Ria Formosa (Portugal), que lá trabalhou durante 50 anos até 1970, como um dado relacionado, mas não diretamente sobre El Pintado. Embora testemunhos pessoais diretos para o Molino El Pintado estejam ausentes neste material, o registo histórico do seu proprietário fornece alguma informação sobre o seu funcionamento passado e importância económica. A referência ao último moleiro na Ria Formosa oferece um vislumbre das vidas daqueles que trabalharam em moinhos semelhantes.  

Pesquisas futuras em arquivos locais ou projetos de história oral poderão descobrir histórias pessoais relacionadas com o Molino El Pintado. Identificar a ausência de relatos pessoais abre uma potencial via para futuras investigações que enriqueçam a narrativa histórica do moinho e o conectem mais diretamente às vidas dos indivíduos da comunidade.

Paralelos na Margem: Comparação com Outros Moinhos de Maré
Na região do rio Guadiana (Espanha), existem outros moinhos de maré na Paisagem Pesqueira de Isla Cristina, parte do trecho exterior do rio Guadiana. Exemplos incluem o Moinho de San Diego, o Moinho de Molinito e o Moinho de Las Compuertas (em ruínas). A época de ouro para os moinhos de maré nesta área foi entre os séculos XVI e XVIII. A presença de múltiplos moinhos de maré na mesma área geográfica indica que o Molino El Pintado fazia parte de uma rede mais vasta de tais estruturas industriais que desempenharam um papel significativo na economia e na paisagem regional.  

Em Portugal, os moinhos de maré tiveram uma importância histórica, remontando à pré-industrialização, particularmente ao longo do Estuário do Tejo e no Algarve. Existem referências antigas a moinhos de maré em Portugal, como em Castro Marim (Algarve) em 1290.

O moinho de maré de Corroios (Seixal, perto de Lisboa) é um exemplo bem preservado que funciona atualmente como ecomuseu. Menciona-se também o moinho de maré do Moinho de Marim em Olhão (Algarve), que operou até 1970 e é agora um objeto de demonstração.

Existem também azenhas (potencialmente incluindo moinhos de maré) no Guadiana perto de Mértola, Portugal. Comparar o Molino El Pintado com os moinhos de maré portugueses revela características partilhadas (aproveitamento da energia das marés para a moagem) e potenciais diferenças nos estilos arquitetónicos ou mecanismos operacionais.

Os exemplos portugueses, especialmente aqueles também convertidos em ecomuseus, oferecem paralelos valiosos para compreender o contexto europeu mais amplo do património dos moinhos de maré.  

Com Gem-Digi – Foto: Fernado Alda

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