Eurocidade do Guadiana apresenta sonho de «Barco Solar» e planeamento conjunto
Na Plaza de la Laguna, frente ao edifício do município espanhol de Ayamonte, foram assinalados os 40 anos de adesão à União Europeia, com a participação dos líderes locais e representantes da Comissão Europeia a debateram o futuro do território, apresentando projetos para a mobilidade sustentável, ordenamento comum e combate a incêndios.
A iniciativa destinou-se também a apresentar os novos planos estratégicos para a Eurocidade do Guadiana, o território único que une Ayamonte, Castro Marim e Vila Real de Santo António.
Durante a sua intervenção, Álvaro Araújo, Presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António e da presidencia rotativa, destacou a visão da Eurocidade como um «território único» com mais de 50.000 habitantes e 500 quilómetros quadrados. Araújo sublinhou que a marca «Eurocidad Guadiana» é crucial para a visibilidade internacional e para combater a sazonalidade turística.
O autarca revelou que os novos fundos comunitários permitirão investir na mobilidade sustentável e partilhou o sonho de criar uma embarcação movida a energia solar para ligar os três municípios. Esta embarcação permitiria aos “eurocidadãos” circular facilmente entre as cidades, mesmo de madrugada, regressando, por exemplo, a Ayamonte às duas, três ou quatro da manhã.
No entanto, lançou um desafio direto aos representantes da Comissão Europeia presentes, apontando as «barreiras” burocráticas que ainda existem e deu como exemplo a dificuldade em trazer jovens portugueses a eventos em Ayamonte, como feiras de formação profissional, devido à burocracia excessiva.
O representante de Ayamonte, Juan Fran, recordou o sucesso de projectos europeus anteriores, como o EDUCI, que transformou a frente ribeirinha da cidade, e apresentou o novo projecto EDIL, de quase onze milhões de euros, destinado a transformar e interligar as praças do município. Castro Marim esteve representado pelo vereador João Pereira.
40 Anos de Europa: De “Costas Voltadas” à Cooperação
Os representantes da Comissão Europeia, Nicolaos Isaris (Espanha) e Luis de Amorim (Portugal), refletiram sobre o impacto «radical» da adesão13. Isaris afirmou que a UE significou «progresso real» em infraestruturas mas, acima de tudo, «abriu a mente», como o demonstram programas como o Erasmus.
Luis de Amorim sublinhou um ponto considerado «irónico», o ter sido a adesão a uma entidade maior (a UE) que permitiu a Espanha e Portugal, que historicamente viviam “de costas voltadas“, melhorar substancialmente a sua cooperação bilateral. Amorim anunciou ainda o programa Discover EU, que oferece 40.000 passes de comboio gratuitos a jovens que celebrem 18 anos.
Os Projectos Estratégicos Transfronteiriços
A sessão serviu ainda para detalhar os projetos concretos que irão moldar o futuro da região, tais como o Planeamento Territorial Sustentável 2030. Silvia Madeira, diretora da Eurocidade, apresentou este plano de ordenamento comum.
A iniciativa tira partido da “feliz coincidência” de os três municípios estarem a rever os seus planos diretores municipais em simultâneo. A proposta central é o projeto «Pontes que nos unem», que inclui a ambiciosa adição de uma passagem ciclo-pedonal à Ponte Internacional do Guadiana e um sistema integrado de transportes entre as três cidades.
Quano ao de Combate a Incêndios, Alejandro García Hernández, Diretor-Geral de Emergências da Junta de Andaluzia, explicou um projeto focado na nova geração de incêndios florestais, que são agora emergências de proteção civil.
O projeto propõe uma mudança de paradigma que é deixar de apenas reagir ao fogo e passar a antecipar-se, através da gestão de «zonas estratégicas» ou «nós de propagação» (como os collados) para mitigar a propagação
Quanto ao Geoparque Transfronteiriço, Rocío Ester García, da Diputación de Huelva, apresentou o projeto Geotrans. Trata-se da criação do primeiro Geoparque transfronteiriço entre Espanha e Portugal, unindo Huelva a quatro municípios do Alentejo (Serpa, Moura, Mértola e Barrancos). O objetivo é usar a geologia singular do território como ferramenta de desenvolvimento sustentável e combate ao despovoamento.
No plano Agroalimentar (Esport Plus): Francisco Mandrique, do clúster agroalimentar Andaluz, detalhou um projeto de apoio à internacionalização de PMEs agroalimentares de Espanha e Portugal. O objectivo é levar os produtos locais aos mercados europeus, capacitando os trabalhadores e ajudando a fixar o emprego qualificado no território.
O desafio Futuro de ligar a «Macro» Europa ao «Micro» Cidadão deu-se no encerramento com um diálogo intergeracional. O nosso diretor e jornalista José Estevão Cruz recordou que a adesão à UE transformou uma «fronteira de guerra numa fronteira de paz.
O ativista social Viriato Vilas Boas deixou um aviso vincado. Segundo ele, a Europa foi bem-sucedida na construção da parte «macro? – As pontes, os edifícios e as instituições. No entanto, alertou que o grande desafio agora é ligar-se ao «micro», os cidadãos dos «bairros sociais» e «guetos», as minorias e os mais pobres, que «não fazem ideia de que isto existe» e se sentem desligados das instituições. Para o ativista, esta desconexão é o que alimenta os extremismos.
Luis de Amorim, da Comissão Europeia, concluiu que o futuro exige «ambição e participação» e que o próprio evento – um diálogo aberto e livre numa praça pública – era a perfeita ilustração do que «é o projeto europeu».


