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Cultura Popular – A empreita de palma

A empreita de palma é fascinante e tem raízes profundas na vida quotidiana e na paisagem do Algarve, tendo por matéria-prima a palmeira-anã (Chamaerops humilis), e cresce com abundância no Algarve.

As folhas são seleccionadas e preparadas, num processo passo-a-passo, desde a colheita e secagem até ao entrançar das tiras (a empreita propriamente dita) e a costura com a baracinha para formar os objetos.

A palmeira-anã é a única palmeira nativa da Europa continental e abunda na paisagem algarvia, especialmente no Barrocal e na Serra, adaptando-se bem a solos secos e pobres. É conhecida também como “palmeira-das-vassouras” ou “palmito”.

Extremamente resistente, tolera seca, calor, solos pobres, maresia e até algum frio, desempenhando um papel ecológico importante, pois ajuda a prevenir a erosão e regenera-se bem após os incêndios.

Para além das folhas usadas na empreita, os seus gomos apicais (palmitos) eram comestíveis e os pequenos frutos, embora adstringentes, podiam ser consumidos ou cozinhados.

Observando as técnicas detalhadas da empreita, na colheita e preparação, as folhas são colhidas idealmente entre junho e setembro, nos dias de maior calor e a secagem é crucial. A sol ficam as mais claras, é a cor mais comum na empreita, mas devem ser protegidas da chuva que as escurece e fragiliza.

Para manter a cor verde, secam-se à sombra, sendo comum, antigamente, usar também fumo de enxofre, a enxofrada, para branquear e conservar as folhas.

Para ripar e entrançar, as folhas secas são divididas (‘ripadas’) em tiras finas, as quais são humedecidas antes de trabalhar para ficarem maleáveis. São então entrançadas, entretecidas, formando longas fitas ou tranças. A largura e o número de «pernas» da trança variam consoante o objeto a criar.

Coser com a Baracinha é talvez a fase mais característica. As «fitas» de empreita são justapostas e cosidas umas às outras com uma agulha grossa (metálica) e um fio especial chamado «baracinha», cordão fino e resistente, também feito de folha de palma enrolada. É esta costura que dá forma aos objetos, sejam eles planos, esteiras, tapetes ou tridimensionais, cestos, alcofas, chapéus.

Por vezes, a empreita era tingida para criar padrões ou bordada com lãs coloridas, prática mais comum a partir do séc. XIX.

No Baixo Guadiana, existe uma forte tradição na arte da empreita. Historicamente, era uma atividade económica importante, muitas vezes realizada por mulheres, e essencial para a vida rural, cestos para transporte agrícola, esteiras para secar figos, e também para a piscatória. O próprio nome empreita deriva do facto de o pagamento ser ajustado à empreitada, ou seja, por peça ou por dia de trabalho.

Encontrará locais como o Mercado Local de Castro Marim onde ainda se comercializam peças de empreita. O Centro de Investigação e Informação do Património de Cacela (CIIPC), na antiga escola de Santa Rita (Vila Nova de Cacela), é também um ponto de referência para o património local, incluindo estes saberes tradicionais. Eventos como os passeios Passos Contados já tiveram edições focadas nos usos das plantas locais, com demonstrações por artesãos da região.

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