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Opinião – As inundações em Altura

A urbanização de Altura que tem causado grande acima, acima de tudo após uma reportagem televisiva, remonta aos finais do século passado e resulta da pressão urbano turística sobre as imediações de uma das praias de excelente qualidade, das melhores do Algarve.

O pecado original, foi cometido em sede de GAT de Tavira, gabinete de apoio às autarquias locais, num período em que, apesar de estar já em vigor as Lei das Finanças Locais, as autarquias ainda não tinham dinheiro suficiente para sonharem colmatar as várias carências deixadas, especialmente nas periferias, pelo regime deposto.

É claro que a zona de Altura é de aluvião, que a própria estação de tratamento de esgotos sofreu grandes constrangimentos, à lodos no subsolo, de natureza quase insanável e na zona nascente foi construída uma zona de retenção, para onde até se chegou a projectar uma marina.

Assim, as inundações em Altura, no concelho de Castro Marim, representam um desafio complexo e persistente, enraizado numa confluência de fatores. A intensidade crescente de fenómenos meteorológicos extremos, as vulnerabilidades geográficas como a coincidência com marés altas e a influência da Ribeira do Álamo, e, fundamentalmente, as deficiências de um urbanismo histórico sem cautela que resultou na impermeabilização de solos e na criação de barreiras ao escoamento natural da água, são os pilares deste problema crónico.

Apesar das intervenções passadas, como a construção do emissário submarino e dos canais subterrâneos, os problemas de drenagem persistem, evidenciando uma capacidade insuficiente da infraestrutura existente para lidar com os volumes de água gerados pelos eventos extremos.

Esta persistência, mesmo com a manutenção e supervisão contínuas, destaca a necessidade de correcções estruturais mais profundas e uma abordagem mais abrangente.

O Município de Castro Marim, ciente destas dificuldades, está a avançar com uma nova fase de intervenções, marcada por um planeamento mais robusto e baseado em estudos hidráulicos aprofundados da Ribeira do Álamo e das zonas baixas de Altura.

Projectos como a lagoa de retenção, que visa duplicar a capacidade de drenagem, representam um passo significativo em direcção a uma solução mais abrangente e resiliente. A integração destas medidas no Plano Municipal de Ação Climática demonstra a abordagem de uma visão estratégica que reconhece a influência crescente e imprevisível das alterações climáticas, posicionando a gestão de cheias dentro de um quadro de adaptação mais vasto.

Para garantir o sucesso a longo prazo e transformar os desafios históricos em oportunidades para um desenvolvimento urbano mais sustentável e seguro em Altura, será vital manter um compromisso contínuo com a implementação rigorosa dos novos planos.

Além disso, a adaptação das futuras práticas urbanísticas para evitar a repetição de erros passados, a promoção de soluções baseadas na natureza e o reforço da comunicação e envolvimento da comunidade são passos cruciais para construir uma resiliência duradoura face às inundações.

./José Estêvão Cruz, com investigação GEM-DIGI

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